O não-fazer não tem nada a ver com ser indolente ou passivo. Pelo contrário. Muita coragem e energia são necessárias para cultivar o não-fazer, tanto na tranquilidade como na atividade. E também não é fácil conseguir um tempo exclusivo para o não-fazer e ser fiel a ele diante de tudo o que precisa ser feito em nossas vidas.
Mas o não-fazer não precisa ser uma ameaça para as pessoas que acham que sempre têm algo para fazer. Elas podem descobrir que poderiam ter feito mais, e feito melhor ao praticar o não-fazer. O não-fazer significa simplesmente deixar que as coisas aconteçam e se desenvolvam de sua própria maneira. Um grande esforço pode estar envolvido, mas ele é gracioso, inteligente, um esforço sem esforço, uma "ação sem agente", cultivada por toda vida.
A atividade sem esforço acontece em alguns momentos da dança e dos esportes, no mais alto grau de desempenho; quando acontece, suspende a respiração de todo mundo. Mas também acontece, em qualquer área da atividade humana, desde pintar até consertar um carro ou cuidar dos filhos. Anos de prática e experiência juntam-se em algumas ocasiões, dando origem a uma nova capacidade que permite que a execução desabroche além da técnica, além do empenho, além do pensamento. A ação torna-se então pura expressão da arte, de ser, do abandono de todo fazer - uma fusão da mente com o corpo em movimento. Nós nos emocionamos ao assistir a um desempenho fabuloso, seja atlético ou arístico, porque ele nos permite participar, com elevação de encanto de uma verdadeira maestria, mesmo que rapidamente, e talvez partilhar a idéia daquilo que cada um de nós da sua própria maneira, pode atingir em tais momentos de graça e harmonia, ao vivermos nossas próprias vidas.
Thoreau disse: "Influenciar a qualidade do dia, esta é a mais sublime das artes". Martha Graham, falando da arte da dança, assim expressou-se " Tudo que importa é este momento que se movimenta. Faça o momento ser vital e valer a pena ser vivido. Não o deixe escapar despercebido e inútil."
Nenhum mestre da meditação poderia ter dito algo mais verdadeiro. Podemos empregnar a nós mesmos como aprendizes deste ofício, sabendo muito bem que o não-fazer realmente é trabalho para toda uma vida; e sempre conscientes de que o hábito de fazer é normalmente tão forte em nós que cultivar o não-fazer ironicamente exige esforço considerável.
Meditação é sinônimo da prática do não-fazer. Não estamos praticando para fazer coisas perfeitas ou fazer perfeitamente as coisas. Mais do que isso, praticamos para captar e verificar (tornar real para nós mesmos) o fato de que as coisas já são perfeitas e plenamente satisfatórias como são. Isto tudo tem a ver com reter o momento presente em sua plenitude sem impor coisa alguma além dele, percebendo sua pureza e o frescor do se potencial, para permitir a ocorrência do próximo momento. Então, sabendo como as coisas são, e conscientes de que não sabemos mais do que realmente sabemos, agimos, nos movemos, tomamos uma posição, aproveitamos uma oportunidade. Algumas pessoas falam disso como fluxo, um momento fuindo sem emendas e sem esforço em direção ao próximo momento, embalado no leito da concentração.
Extraído do livro A Mente Alerta - Jon Kabat-Zinn
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