RHEBECKA SOUZA

Somos seres com alma de borboleta, plena de beleza e harmonia, habitando num corpo onde as emoções e desejos, numa espécie de casulo nos aprisionam nos corpos físico, emocional, mental e espiritual, até que a compreensão e a consciência nos eleve ao que somos verdadeiramente, seres de luz.


sábado, 12 de junho de 2010

RELACIONAMENTOS - POR RUBENS ALVES

"Depois de muito meditar sobre o assunto conclui que, os casamentos (relacionamentos) são de dois tipos: Há os casamentos do tipo tênis e há os casamentos do tipo frescobol.
Os casamentos do tipo tênis são uma fonte de raiva e ressentimentos e terminam sempre mal. Os casamentos do tipo frescobol são uma fonte de alegria e tem a chance de ter vida longa.
Explico-me.Para começar, uma afirmação de Nietzsche com a qual concordo inteiramente.
Dizia ele: Ao pensar sobre a possibilidade do casamento, cada um deveria se fazer a seguinte pergunta: Você crê que seria, capaz de conversar com prazer com esta pessoa até a sua velhice?
Tudo o mais no casamento é transitório, mas as relações que desafiam o tempo são aquelas construidas sobre a arte de conversar.
Sheerazade sabia disso. Sabia que casamentos baseados nos prazeres da cama são sempre decapitados pela manhã, terminam em separação, pois os prazeres do sexo se esgotam rapidamente, terminam na morte, como no filme "O Imperio dos Sentidos".
Por isso, quando o sexo já estava morto na cama e o amor não mais se podia dizer através dele, ela o ressuscitava pela magia da palavra: começava uma longa conversa sem fim, que deveria durar mil e uma noites. O sultão se calava e escutava como se fosse música.
A música dos sons ou da palavra - é a sexualidade sob a forma da eternidade: é o amor que ressuscita sempre, depois de morrer.
Há os carinhos que se fazem com o corpo e há os carinhos que se fazem com as palavras. E contrariamente ao que se pensam os amantes inexperientes, fazer carinho com as palavras não é ficar repetindo o tempo todo"Eu te amo"...
Barthe advertia:"Passada a primeira confissão, "eu te amo" não quer dizer mais nada. É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatomica, mas em sua nudez poética".
Recordo a sabedoria de Adélia Prado> "Erótica é a alma"
O tênis é um jogo feroz.O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro. O outro foi incapaz de devolver a bola.
Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador ´r aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir sua "cortada", palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é  o de cortar, interromper, derrotar.
O prazer do tênis se encontra portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora do jogo.
Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro.
O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolve-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la.
Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui, ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra, pois o que deseja é que ninguém erre. E o que errou pede desculas, e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importancia. Começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...
A bola: são nossas fantasias, irrealidades, sonhos sob a forma de palavras.
Conversar é ficar batendo sonho prá lá, sonho prá cá...
Mas há casais que jogam com os sonhos como se jogassem tênis. Ficamos à espera do momento certo para a cortada.
Tênis é assimm: recebe-se o sonho do outro para destrui-lo, arrebentá-lo, como bolha de sabaão...
O que se busca é ter razão e o que se ganha é o distanciamento. Aqui, quem ganha sempre perde.
Já no frescobol é diferente: o sonho do outro é um brinquedo que deve ser preservado, pois se sabe que, se é sonho, é coisa delicada, do coração.
O bom ouvinte é aquele que, ao falar, abre espaços para que as bolhas de sabão do outro voem livre. Bola vai, bola vem - cresce o amor....
Ninguém ganha para que os dois ganhem. E se deseja então que o outro viva sempre, eternamente, para que o jogo nunca tenha fim..."

Um comentário:

  1. Perfeitas e sábias as suas palavras Rebeca..Espero quem sabe um dia jogar uma bela partida de frescobol..Beijos

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