RHEBECKA SOUZA

Somos seres com alma de borboleta, plena de beleza e harmonia, habitando num corpo onde as emoções e desejos, numa espécie de casulo nos aprisionam nos corpos físico, emocional, mental e espiritual, até que a compreensão e a consciência nos eleve ao que somos verdadeiramente, seres de luz.


sábado, 2 de junho de 2012

TRANSCENDER O SOFRIMENTO POR MEIO DO DESAPEGO

Continua..
" Então surge a necessidade do desapego, sob a forma de um acontecimento inesperado que vem destruir aquilo que estava se cristalizando. Sofremos, portanto, e aprendemos a lição da impermanencia à nossa custa; mas, se aceitarmos a provação e compreendermos seu significado, teremos uma luminosa revelação e uma abertura da consciência, que nos compensarão da nossa renúncia.
.. O aspecto mais oculto do desapego - e o mais difícil de ser realizado - é constituido exatamente dessa "simultaneidade" dos dois aspectos, dos dois níveis de expressão que durante longo tempo consideramos separados, opostos e irreconciliáveis.
Para muitas pessoas, por exemplo, parece impossível expressar o amor de maneira impessoal e  desapegada sem cair numa atitude de frieza, de não-participação emocional; tais pessoas não conseguem ver que podemos expressar um amor desapegado mais revestido de calor, de ternura e de verdadeiro interesse pelo outro.
O verdadeiro desapego permite amar desse modo, não exige reciprocidade e não tem expectativas, pois é Verdadeiro Amor pelo Ser Real da outra pessoa. Não nasce da necessidade, de projeções ou ilusões, mas sim do nosso centro de consciência que exprime a energia do Amor do Eu, irradiando como o Sol, espontaneamente, sobre tudo e sobre todos.
Quem sabe amar verdadeiramente não prende a pessoa amada, mas a deixa livre porque deseja a felicidade dela, não a sua própria. No entusiasmo do verdadeiro amor, acontece o desapego e nasce um sentimento de liberdade que não diminui a intensidade do afeto, mas a aumenta; não há sofrimento, mas alegria; não há sacrifício, mas um ato de doação.
Falei do amor porque é uma experiência pela qual todos nós podemos facilmente ter passado, mesmo que por breves momentos. Nos outros aspectos da vida talvez seja mais difícil perceber a simultaneidade entre desapego, liberdade interior e interesse e entusiasmos exteriores, como por exemplo no "desapego dos frutos da ação" descrito no Bhagavad Gita como requisito fundamental do verdadeiro iogue. O verdadeiro artista, por exemplo, movido pela sua criatividade, consegue alcançar essa forma de desapego porque seus motivos são puros e provêm do Eu.
Fica claro, dessas breves notas, que o verdadeiro desapego é o resultado de um longo processo de desidentificação e de libertação que leva o homem a reconhecer sua realidade e a despojar-se de tudo aquilo que a ofusca, a limita e a distorce.
O desapego não é, como talvez tenhamos pensado num primeiro momento, uma renúncia, uma restrição, uma aridez ou uma fuga da vida; ao contrário; é um alargamento, um florescer e uma participação na vida de maneira mais total, alegre e verdadeira, tal como expressa São João da Cruz em seu livro Salita al Monte Carmelo ( A subida do Monte Carmelo) com estas palavras:
" O homem adquirirá, por meio do desapego, um claro conhecimento das coisas, e assim compreenderá claramente a verdade sobre elas. (..) Alegrar-se-á com elas, portanto, de uma maneira diferente do que faz quem está a elas apegado. Ele as desfruta segundo a verdadeira natureza delas; o outro as desfruta segundo sua enganosa aparência. Um aprecia o lado melhor das coisas; o outro, o lado pior. Um se alegra com aquilo que as coisas substancialmente são; o outro apega-se a elas com os seus sentidos, segundo aquilo que as coisas acidentalmente são".
 meta que o ser humano deve alcançar por meio do desapego, portanto, não é a abstração da vida, a paz transcendente do Ser e a unilateralidade de uma perfeição sobre-humana, mas sim a totalidade, a superação da dualidade entre Espírito e Matéria, entre Ser e Vir-a-ser, em uma síntese superior para realizar assim o estado de consciência admiravelmente expressado na Voce del Silenzio (Voz do silêncio) com estas poéticas palavras:
Os ramos da árvore são fustigados pelo vento
mas seu tronco permanece imóvel.
Tanto a ação quanto a não-ação
Devem em ti encontrar lugar:
teu corpo em movimento,
tua mente tranquila,
tua Alma límpida como um lago na montanha.
Trechos do livro O Caminho para a libertação do sofrimento - Angela Maria La Sala Batá- Ed. Pensamento

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