RHEBECKA SOUZA

Somos seres com alma de borboleta, plena de beleza e harmonia, habitando num corpo onde as emoções e desejos, numa espécie de casulo nos aprisionam nos corpos físico, emocional, mental e espiritual, até que a compreensão e a consciência nos eleve ao que somos verdadeiramente, seres de luz.


domingo, 30 de outubro de 2011

A PACIENCIA

" A paciência, a paciência, a paciência, só isso ela encontrva na primavera ao vento"
" Leio e fico pensando como é que Clarice Lispector escreveu isso. Pois é claro que toda primavera venta, varrendo o inverno, anunciando que um novo ciclo começou.
Mas a associação direta com a paciência só costumava aparecer na filosofia chinesa, que liga o leste com o vento, a primavera, a manhã, os olhos, o fígado, o sabor ácido, a criação e a calma observação do que acontece, isto é, a paciência. Até porque a primavera sempre dá mais do que pode - arrebata, apaixona, excita órgãos e sentidos.
Como aguentar isso?
Com paciência" responde o sábio.
"Ter peciência significa conter a própria inclinação para as setes emoções: ódio, adoração, alegria, ansiedade, cólera, pesar, medo. Não cedendo a elas voce se torna paciente, depois compreende todo tipo de coisas e entra em harmonia com a eternidade".
O fígado é a mãe da peciencia. Quando alguém está irritado, o povão diz que está mal do fígado.
Combina com a concepção chinesa, que o vê responsável pelo sereno fluir das substâncias através do corpo e também pela regularidade das atividades corporais.
Comanda o movimento das forças e governa o fluxo de Chi, a energia essencial. Mais: harmoniza as emoções, proporcionando um ambiente interno confortável.
Mais ainda: é o sistema energético do fígado que governa a atividade sexual, que se torna mais intensa na primavera.
E se ela se torna mais intensa naturalmente, qual é o problema? Nenhum, claro. Mas na primavera a capacidade de realização do ser humano se expressa pela criatividade.
Se for possível conter (e não esgotar) a sexualidade na primavera, empregando esse impulso em outras atividades criativas, o tônus sexual vai se manter firme o ano inteiro.
É como se o movimento impulsivo da natureza precisasse ser temperado pela nossa atitude.
Está lá, no tratado de medicina interna do Imperador Amarelo: "As paixões fortes reduzem e exaurem as emanações, ao passo que as paixões comedidas as fortalecem e tornam fecundas. A paixão forte consome as emanações, ao passo que as emanações alimentam um fogo moderado de desejo. As paixões fortes esbanjam suas emanações, ao passo que um fogo moderado de desejo engendra vida através das suas emanações."
Desse princípio nasceu o sexo tântrico, em que o orgasmo fica horas cintilando, não é a vertigem abrupta que sinaliza o fim do encontro sexual.
Paciência é um santo remédio, e cultivá-la pode trazer a mais secreta das grandes recompensas. Não só no sexo, em tudo. Contra a raiva, por exemplo. O budismo aponta a raiva como o supra´sumo da ignorância, a pior ação que um ser humano pode cometer contra si mesmo. Ué, mas a raiva não é dirigida ao outro? É. Mas quem sente? A gente. O outro pode não estar nem aí - e a gente põe aquela cara horrorosa, a expressão terrível, pensando as piores coisas, se envenenando por dentro. A raiva não resolve nada. Só gera negatividade. Segundo o budismo, destrói todos os méritos acumulados por ações positivas.
É aí que, passo a passo, entra a paciência. Primeiro a gente se dá conta de que teve um ataque de raiva, e trata de se acalmar. Na vez seguinte vai se dar conta enquanto estiver tendo o ataque, e ele perde a força. Da próxima vez vai perceber um pouquinho antes de ter o ataque, a tempo de respirar fundo e pensar que tudo passa, ninguém erra porque quer, todos sofremos, todos queremos a felicidade, deve haver alguma outra maneira de lidar com a situação...
Pronto, passou.
Tudo passa. Também a primavera passará."
Texto do livro Meditando na cozinha - Sonia Hirsch

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